Agecom 25 anos: personagens que escreveram a história da comunicação da UFSC

13/06/2017 13:27

Jornalista Moacir Loth, 36 anos na UFSC. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

Anos 70. Não é o início da comunicação na UFSC, mas uma década com mudanças significativas nesta área. Nesse período, a figura do jornalista surgiu na Assessoria de Imprensa ligada ao Gabinete da Reitoria. O Jornal Universitário (JU) começou a ser produzido em 1978. A primeira turma do Curso de Jornalismo iniciou as aulas em março de 1979.

As notícias eram boas e foram os primeiros passos para a estruturação do Jornalismo na UFSC, seja no campo acadêmico ou no profissional. Também em 1979 o jovem repórter de 21 anos, Moacir Loth, ingressou na UFSC, onde ficou por 36 anos. Protagonizou avanços e testemunhou recuos e foi, sem dúvida, o personagem que por mais tempo esteve nos bastidores dessa história à frente dos processos de comunicação da universidade.

Moacir desempenhou as funções de chefe da Redação (1984 a 1988), de diretor do Departamento de Imprensa e Marketing (1989 a 1992) e da Agência de Comunicação (Agecom) por aproximadamente 16 anos, em quatro mandatos alternados. Também é reconhecido por seus trabalhos na Editora da UFSC, na qual conduziu a comunicação (2000 a 2006), editou o jornal “Leitura & Prazer” e a revista “Verbo” da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu).

A Política Pública de Comunicação (PPC) foi um dos principais legados deixados por Moacir. Criada em 1987, o documento completa 30 anos, e desde então orienta os planos, as metas e as ações de comunicação da UFSC. Sobre a filosofia, Loth argumenta que “a comunicação não pode ser chapa branca, isto é, precisa atender de forma profissional e igualitária a Administração Central e o conjunto da comunidade universitária, liberta de qualquer tipo de censura ou discriminação”.

Moacir Loth é um apaixonado pelo ofício e pela UFSC. Sua trajetória é marcada pelo jornalismo crítico, criativo, colaborativo, sistemático e ético. A máquina de escrever Olivetti sempre lhe acompanhou mesmo na era dos computadores. Era comum vê-lo rodeado de livros, anotações e ideias, e possuía um raro perfil de compartilhar, decidir em grupo. A equipe tinha a liberdade de escrever, desde que o assunto fosse bem apurado, com a voz dos dois lados. Para ele “a universidade tem que manter a veia aberta com a sociedade e não podia deixar de falar quando solicitada”.

A criação da Agecom em 1992 foi um passo expressivo, porém a comunicação está presente na UFSC desde a sua criação, já na década de 60. Para mostrar a linha do tempo, segue um resumo dos fatos:

Na gestão do primeiro reitor da UFSC, João David Ferreira Lima (1961-1972), o escritor Jair Hamms, autor do livro “O Detetive de Florianópolis”, acumulava a assessoria de Imprensa e a chefia de Gabinete.

Na administração de Caspar Erich Stemmer (1976-1980) permaneceu o formato de Assessoria de Imprensa, e mesmo o reitor tendo a preocupação com as ciências exatas e as engenharias, em seu mandato que foi implantado, em 1978, o Jornal Universitário com o jornalista José Hamilton Martinelli. Era o início de uma história de 38 anos que conquistou a credibilidade da sociedade por retratar a UFSC na ótica da comunidade.

Moacir explica que no início o jornal apresentava “uma concepção mais administrativa, com conteúdo ligado à própria administração (…) misturava-se a ideia de instituição com Reitoria, não se tinha muito claro que a comunicação tinha que atender ao conjunto, inclusive com espaço para a crítica; e também levantar questões, problemas e desafios”.

Fim do JU

A última edição do JU foi impressa em outubro de 2012, na gestão de Roselane Neckel. O fim inesperado deste trabalho histórico se deve principalmente pela adoção de uma nova política de comunicação para o setor. Nesta administração se privilegiou as mídias sociais e se retomou o antigo formato de Assessoria de Imprensa vinculada ao gabinete.

Moacir fala de como o jornal foi importante para a instituição, já que “retratava os acontecimentos e a produção científica da UFSC, levando em conta a pluralidade e a diversidade de pontos de vista que a caracterizam”. Além de mostrar o dia-a-dia da UFSC, a linha editorial abria espaço para os grandes temas do cenário nacional e críticas à própria universidade.

Campus Florianópolis em 1979. Acervo Agecom/UFSC

Curso de Jornalismo

A criação do curso de Jornalismo em 1979 é um dos marcos da comunicação na UFSC. O colunista Moacir Pereira foi um dos fundadores, professor de Ética e Legislação e o primeiro coordenador. O curso tinha como lema “liberdade, consciência crítica e responsabilidade” e se caracterizou, principalmente nos primeiros anos, pela intensa participação na vida política do Estado. No princípio as aulas eram ministradas no prédio da Imprensa Universitária (Gráfica), espaço atualmente ocupado pela Agecom.

Coordenadoria em 1984

Na gestão de Ernani Bayer (1980-1984), o setor de imprensa ganhou status de assessoria de comunicação. E no último ano de seu mandato, o Conselho Universitário aprovou a Coordenadoria de Comunicação Social, que saiu do espaço que ocupava na Reitoria e se mudou para onde hoje se encontra a Agecom.

A nova coordenadoria era comandada pelo jornalista Laudelino José Sardá, que foi editor-chefe do Jornal “O Estado” e depois integrou o quadro de servidores da UFSC.

Laudelino José Sardá. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

O coordenador ficou no cargo até a gestão seguinte de Rodolfo Joaquim Pinto da Luz (1984-1988). Para Laudelino, uma das características desses anos era a criatividade; não havia internet e a informação era difundida pelo tripé jornal, televisão e rádio. “Como a universidade tem um bom acervo de pesquisa e extensão, nós trabalhamos a divulgação científica e a comunicação interna”, relembra.

Afirma que “não era apenas assessoria de imprensa, a comunicação fazia a simbiose entre a universidade e a comunidade”. E cita outras particularidades: havia mais de 20 funcionários, os textos eram datilografados e as sugestões de pauta eram entregues de porta em porta nos veículos de comunicação; usava-se muito o telefone e o fax.

Sardá diz que a UFSC era uma grande fonte de informação. A distribuição do conteúdo científico da universidade em fita cassete para 18 emissoras de rádio mereceu o prêmio nacional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Em função disso, criou-se o Fórum das Assessorias de Comunicação das Universidades Brasileiras, em que a UFSC presidiu o primeiro.

Moacir nesse período era chefe de redação, envolvia-se com as pautas, a comunicação interna, o Jornal Universitário, articulava com os jornalistas de outros veículos, entre outras atividades. Recorda-se da estrutura à época, que “em comparação com outras universidades federais, sempre foi boa”. Tinha secretaria, jornalistas, fotógrafos, publicitário, bolsistas e profissionais do Projeto Larus. De 1989 a 1990, havia dez pessoas que trabalhavam dentro da Agecom no projeto pioneiro na produção de videodocumentários sobre educação ambiental e de divulgação científica.

Mesmo não sendo a estrutura tão distinta da atual, Moacir aponta que “a grande diferença é que não se tinha uma política pública, era mais uma assessoria ligada à Reitoria, embora já tivesse a preocupação com a divulgação de ciência”.

Departamento em 1986

Em 1986, após pesquisa realizada com os públicos interno e externo, concebeu-se o projeto de comunicação social pública, referendado no ano seguinte. Na ocasião foi criado o Departamento de Comunicação e Marketing, transformado na sequência em Departamento de Imprensa e Marketing, dentro da visão de integrar todas as áreas de comunicação.

No ano seguinte à implantação da PPC, Moacir assumiu como diretor (1988-1992), na gestão do reitor Bruno Rodolfo Schlemper Junior. “A gente conseguiu bastante apoio na estruturação e no campo político, com abertura de concurso público, ampliação da equipe e avanços na implementação da política pública que depois fez escola em outras universidades”.

Agência em 1992

Heloisa Dallanhol. Foto Henrique Almeida/Agecom/UFSC

Em 3 de junho de 1992, o DIM deu lugar à Agecom. Constam nos registros oficiais que nesta mesma data, a jornalista Heloisa Dallanhol foi nomeada diretora da nova Agência. A profissional, formada pela UFSC, trabalhou no Serviço de Divulgação do Centro de Tecnológico (CTC), contratada pela Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina (Feesc). A Agecom, que naquele momento havia conquistada uma posição estratégica na universidade, foi estabelecida na gestão do reitor Antônio Diomário de Queiroz (1992-1996).

Moacir assumiu a direção da Agecom após a saída de Heloísa. O trabalho continuou sendo respaldado pela Política Pública de Comunicação. O que era feito aqui na UFSC não existia em nenhuma outra universidade. Ainda hoje essa experiência serve como base para a gestão da comunicação nas assessorias de universidades, entidades representativas, empresas públicas e até de setores da iniciativa privada.

A PPC é resultado de sua monografia do curso de Especialização em Comunicação Social Integrada na Fundação Dom Cabral e da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais. Em sua essência, “prioriza os fatos concretos, as realizações da Instituição, em resumo, as notícias, pautando a atuação da Agecom nas regras do jornalismo e nos códigos de ética do Jornalista e do Servidor Público. Trata-se de uma comunicação abrangente, estratégica, integrada e planejada, que serve de canal e faz o meio campo entre a UFSC e a comunidade, interna e externa, atendendo sem restrições de ordem pessoal ou ideológica, a todas as demandas institucionais e de interesse público ou coletivo”.

Antônio Diomário de Queiroz, reitor em 1992. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

Moacir também teve papel determinante na defesa da profissão de jornalista no serviço público. Atuou no Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, na Comissão de Ética da categoria, na Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), na Comissão Nacional dos Assessores de Comunicação junto à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), onde também foi delegado e diretor regional.

Citou a sua participação no fórum da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) que “pressionava reitorias e o Ministério da Educação (MEC) a priorizarem a comunicação, a fornecerem estrutura adequada, a mostrarem que é um setor estratégico, não só para o fortalecimento das instituições, mas ao apoiarem as assessorias legitimavam a atuação da universidade na sociedade”.

Pelo trabalho em defesa de uma política pública e integrada de comunicação, pelo Jornal Universitário e pela divulgação dos projetos acadêmicos, a Agecom recebeu o prêmio José Reis de Jornalismo Científico, em 1994, concedido pelo CNPq, e considerado o mais importante do país nessa área.

Para Moacir, a “Política Pública de Comunicação foi um divisor de águas”, pois a partir dela se definiu como equívoco o culto à personalidade “e passou-se a enxergar a comunicação social como uma área em que se trabalha com as mesmas regras do jornalista, com critérios e senso ético”.

Conflitos sempre existiram, explica Moacir, principalmente no começo, pois a Reitoria entendia a comunicação como um meio para fazer publicidade ou propaganda, e levou um tempo até compreenderem o discurso e fazerem a defesa dessa proposta.

Acrescenta que “o papel da comunicação social em uma universidade pública e gratuita é mostrar a sua importância para a sociedade e esta aproximação provoca uma cobrança maior na devolução na forma de serviços, soluções e novos conhecimentos”. A divulgação, diz Loth, “tem a função de legitimar o investimento feito pela população” e “de estimular o envolvimento e o comprometimento da comunidade científica”.

Fachada da Agecom. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

A criação da Agecom, segundo Sardá, alavancou o trabalho de divulgação aliado às novas tecnologias. “E na comemoração dos seus 25 anos, a agência tem a competência de fazer uma reflexão profunda sobre a necessária e importante transformação”. Para ele a comunicação organizacional precisa dar um salto, pois o mundo mudou. Não existe mais jornal, televisão e rádio, 95% do público se informam pela internet.

“Acho que uma universidade como a nossa, expressiva na sua produtividade cientifica, na sua extensão, tem que trabalhar a interatividade com a sociedade, tem que ter a capacidade de fazer que o professor, aluno, e técnico sejam nossos agentes de comunicação”, acrescenta.

Outra atividade fundamental da Agecom é tornar a universidade fonte para a imprensa. “A UFSC detém o conhecimento para explicar e justificar acontecimentos no país e até mesmo no mundo” e o Guia de Fontes foi o meio encontrado para colocar o jornalista a trabalhar de forma articulada, como facilitador do contato do pesquisador com os meios de comunicação.

A Agecom reúne no Guia de Fontes a relação de pesquisadores da instituição, tornando-a precursora na organização de publicações do gênero. A primeira edição foi lançada em 1993. Atualmente a Agecom possui um guia online, com acesso apenas pela equipe e planeja implantar um aplicativo para atender melhor a demanda.

“Moa”, como é carinhosamente chamado, aposentou-se em 2015, sem o devido reconhecimento aos muitos anos dedicados à universidade. Mesmo próximo dos últimos dias na Agecom, preencheu seu tempo com as publicações de matérias sobre os livros da Editora da UFSC, produzindo quase que um texto por dia. Na atual gestão do reitor Luiz Carlos Cancellier o nome de Moacir foi lembrado pela equipe para assumir mais uma vez a direção da Agência em 2016, pela singularidade em seu modo de ser e de trabalhar.

Rosiani Bion de Almeida/Agecom/UFSC

 

Saiba mais:

Diretores da Agecom

Heloísa Dalanhol (6/1992 a 8/1993)

Moacir Loth

  • 8/1993 a 6/2000
  • 2/2007 a 5/2008
  • 11/2008 a 5/2012

Aureo Mafra Moraes (6/2000 a 5/2004)

Paulo Fernando Liedtke (5/2012 a 11/2012)

Artemio Reinaldo de Souza (10/2016 aos dias atuais)

 

Diretoria-Geral de Comunicação

Tattiana Gonçalves Teixeira (11/2013 a 5/2016)